“Para onde devem
voar os pássaros depois do último céu?”
Carla Luciane Klôs Schöninger
Denise Almeida Silva
Decidimos
ir quando o Prêmio Funarte Myriam Muniz 2014 abriu inscrição.
Inscrevemos o Projeto (des)pertencimento e fomos aprovados.
Demos inicio a montagem de um espetáculo teatral que se
utiliza de uma vertentes do teatro de animação: o teatro de objetos, para
falar de raízes culturais, imigração e memória; temas interligados pelo sentimento de (des)pertencimento,
da busca pela identidade cultural
e o retorno à terra de origem, a partir
de relatos autobiográficos da atriz
Jô Fornari e do ator Laércio Amaral .
O ponto de
partida desta montagem serão os relatos autobiográficos dos atores.
Os relatos de Jô, partem
de sua origem, que data da chegada da imigração italiana que desembarcou no Rio
Grande do Sul por volta de 1800, trazendo seus bisavôs que ali se estabeleceram
por vários anos. Mais tarde seus avôs, pais e tios imigraram para o interior de
Santa Catarina, estabelecendo residência no oeste catarinense, onde permanecem
até hoje. Ela saiu de São
Domingos, cidade do interior do estado de Santa Catarina, para estudar, fazer
teatro, conhecer o mundo, morar em diferentes lugares e viver longe de sua
terra de origem.
Esta condição de imigrante sempre constante na vida da
atriz, foi aos poucos trazendo à tona um sentimento de despertencimento aos locais onde se encontrava, o que despertou nela o interesse pela busca de sua identidade
cultural, que consequentemente, levou-a para um novo interesse: o retorno à
terra de origem, ao seu território de
pertencimento.
Para tratar
destes temas, será realizada uma pesquisa de campo, para coleta de objetos, histórias, causos, vivências e sonhos
dos imigrantes italianos da família da atriz, bem como suas referências
enquanto desbravadores de terras e as
questões culturais, políticas e sociais que os levaram à imigração. Junto a
isso será abordado o aspecto da origem colona, suas particularidades,
crenças, modo de vida. E, sobretudo, o sentimento que muitas vezes assola
emocional e culturalmente o imigrante: o sentimento de despertencimento. Esta
pesquisa será um dos aspectos fundamentais para a construção do material
poético a ser levado para a cena.
Os relatos de Laércio partem de reflexões sobre
seus próprios despertencimentos, sua própria sensação de imigrante de uma terra
desconhecida de si mesmo. Nascido numa cidade que deixou aos três anos de idade e para a qual voltou pouquíssimas
vezes. Assim sendo, despertence à sua
terra natal.
Na cidade onde se criou, e onde passou a maior
parte de sua vida, sempre se sentiu, desde muito pequeno, um não-pertencente.
Mas além das
fronteiras geográficas estão as da alma. E este é o ponto que adentrou mais
profundamente no projeto: o das sensações íntimas de inadequação, as pequenas e
grandes “quedas”, os tropeços e acidentes de percurso. Mas também as alegrias e
os contentamentos.
Sua lembrança de
uma “paixão platônica da infância.”, foi o fiozinho solto da memória e a partir desta porta aberta, desfilaram
memórias de um pai que já está além; causos na escola, na vizinhança e na
família; os tiros dentro dos muros da caserna e tigres heróis. Ainda há gavetas
a vasculhar na vivência de sua raiz cabocla, levantar histórias ancestrais,
entrar em contato com este universo prenhe de drama e poesia.
Estes serão os alicerces, a construção dramatúrgica acontecerá através
de um processo colaborativo, onde atores, diretora e assistente dramatúrgico,
participarão orquestrando as memórias pessoais e familiares dos atores, elaborando uma trama que transite entre o real e o fictício, a
experiência e a reflexão, entre o pessoal e o universal, a partir da
exploração da linguagem do Teatro de Objetos.
Ao tratar deste
tema do resgate, a montagem não pretende abordar, necessariamente, uma volta ao
lugar geográfico onde se nasce, mas sim a busca por uma identidade enquanto
indivíduo, algo que sugere tocar na essência humana e, provavelmente, mítica,
como sugere Mircea Elíade em “O mito do eterno retorno”.
A direção desta montagem estará a cargo da atriz e diretora, Sandra Vargas, de São Paulo.
Esta
montagem não pretende ser um espetáculo sobre a vida dos atores, mas sim, um
espetáculo que parte de historias reais e que se desdobram e se entrecruzam com historias de pessoas que saíram do lugar onde nasceram pra
construir sua história no lugar que escolheram.
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