:: o projeto

DESCRIÇÃO

Montagem de espetáculo  teatral que se utiliza de uma das vertente do teatro de animação: o teatro de objetos , para falar de raízes culturais,  imigração e memória; temas interligados pelo sentimento de (des)pertencimento, da busca pela identidade cultural  e o retorno à terra de origem, a partir  de relatos  autobiográficos  da atriz  Jô Fornari e do  ator Laércio Amaral.

Esta montagem é uma parceria entre a Cia andante de Itajaí/SC e Grupo Sobrevento de São Paulo/SP, com previsão de estreia em Itajaí e São Paulo em outubro de 2015.
Em cada cidade, será realizado uma temporada de estreias alusivas a  comemoração dos 10 anos de atividades da Cia andante produções artísticas. 

TRAJETÓRIA E PESQUISA DA COMPANHIA:

Em 2015 a Cia Andante completa 10 anos de atividades.

Desde seu surgimento em 2005, na cidade de Itajaí, se dedica à pesquisa e montagem de trabalhos em duas linguagens especificas: a palhaçaria e o teatro de animação.

Na pesquisa com a palhaçaria, montou o espetáculo Riscado e números cômicos. Desde 2009 desenvolve um trabalho de pesquisa e formação continuada em busca da essência do palhaço.

No teatro de animação, produziu espetáculos que utilizam diversas técnicas: luva, vara, manipulação direta, boneco gigante e miniatura. Desde 2008, desenvolve importante trabalho de pesquisa, montagem e fomento de linguagem com o teatro lambe-lambe (teatro de bonecos em miniatura realizado dentro de uma pequena caixa), tornando-se uma das referencias nesta linguagem. 

Em 2011, em busca de novas perspectivas técnicas, o grupo teve seu primeiro contato com uma vertente  contemporânea do teatro de animação, o TEATRO DE OBJETOS, descobrindo ali, uma potente ferramenta para se contar historias.

A curiosidade, o desejo e o encantamento pelas possibilidades e limitações que o objeto proporciona, levou o grupo a buscar o aprofundamento desta técnica.

A primeira oficina foi com a artista referencia nesta linguagem no Brasil, Sandra Vargas do Grupo Sobrevento. Onde foi reafirmado o interesse pela linguagem, incorporando-a, posteriormente, nas oficinas de teatro lambe-lambe que ministram. Em 2014, o grupo fez nova oficina com Sandra Vargas e manteve durante o ano  um grupo de estudos e pesquisas com vários artistas de Itajaí.

O teatro de objetos surgiu nos anos 50 na Europa, e é a vertente mais moderna do Teatro de Animação. Esta técnica trabalha com objetos prontos – ready-mades – no lugar de bonecos, deslocando-os de sua função original (embora sem transformar a natureza deles), a fim de explorar uma série de novos significados que possam nascer desses usos.  Para tanto se utiliza da metáfora, metonímia, e simbolismos os mais variados para expressar uma ideia. Ela também se caracteriza por uma singularidade bem contemporânea: a vocação para a dramaturgia confessional e autobiográfica.

Foi a partir desta singularidade que o grupo encontrou uma forma para falar de um tema que lhe é particular e que há tempos desejava abordar em um espetáculo: suas origens advindas do imigrante italiano , do caipira e do caboclo brasileiro.

Este projeto tem então, como objetivo, comemorar os 10 anos de atividades da Cia Andante, com a montagem de um novo espetáculo teatral, bem como concretizar um novo momento do grupo, a fase em que o foco de pesquisa está na técnica do teatro de objetos.

O ponto de partida desta montagem serão os relatos autobiográficos dos atores. 

Os relatos de Jô, partem da data de chegada da imigração italiana que desembarcou no Rio Grande do Sul por volta de 1800, trazendo seus bisavôs que ali se estabeleceram por vários anos. Mais tarde seus avôs, pais e tios imigraram para o interior de Santa Catarina, estabelecendo residência no oeste catarinense, onde permanecem até hoje. Ela saiu de São Domingos, cidade do interior do estado de Santa Catarina, para estudar, fazer teatro, conhecer o mundo, morar em diferentes lugares e viver longe de sua terra de origem.

Esta condição de imigrante sempre constante na vida da atriz, foi aos poucos trazendo à tona um sentimento de despertencimento aos locais onde se encontrava, o que despertou nela o interesse pela busca de sua identidade cultural, que consequentemente, levou-a para um novo interesse: o retorno à terra de origem, ao seu território de pertencimento.

Para tratar destes temas, será realizada uma pesquisa de campo, para coleta de objetos, histórias, causos, vivências e sonhos dos imigrantes italianos da família da atriz, bem como suas referências enquanto desbravadores de terras e as questões culturais, políticas e sociais que os levaram à imigração. Junto a isso será abordado o aspecto da origem colona, suas particularidades, crenças, modo de vida. E, sobretudo, o sentimento que muitas vezes assola emocional e culturalmente o imigrante: o sentimento de despertencimento. Esta pesquisa será um dos aspectos fundamentais para a construção do material poético a ser levado para a cena.

Os relatos de Laércio partem de reflexões sobre seus próprios despertencimentos, sua própria sensação de imigrante de uma terra desconhecida de si mesmo. Nascido numa cidade que deixou  aos três anos de idade e para a qual voltou pouquíssimas vezes. Assim sendo, despertence  à sua terra natal.

Na cidade onde se criou, e onde passou a maior parte de sua vida, sempre se sentiu, desde muito pequeno, um não-pertencente.

Mas além das fronteiras geográficas estão as da alma. E este é o ponto que adentrou mais profundamente no projeto: o das sensações íntimas de inadequação, as pequenas e grandes “quedas”, os tropeços e acidentes de percurso. Mas também as alegrias e  os contentamentos.  

Sua lembrança de uma “paixão platônica da infância.”, foi o fiozinho solto da memória e que a partir desta porta aberta, desfilaram memórias de um pai que já está além; causos na escola, na vizinhança e na família; os tiros dentro dos muros da caserna e tigres heróis. Ainda há gavetas a vasculhar na vivência de sua raiz cabocla, levantar histórias ancestrais, entrar em contato com este universo prenhe de drama e poesia.

Com base nestes alicerces,  a construção dramatúrgica acontecerá através de um processo colaborativo, onde atores e diretora, orquestram  memórias pessoais e familiares , elaborando uma trama que transite entre o real e o fictício, a experiência e a reflexão, entre o pessoal e o universal, a partir da  exploração da linguagem do Teatro de Objetos.

 Ao tratar deste tema do resgate, a montagem não pretende abordar, necessariamente, uma volta ao lugar geográfico onde se nasce, mas sim a busca por uma identidade enquanto indivíduo, algo que sugere tocar na essência humana e, provavelmente, mítica, como sugere Mircea Elíade em “O mito do eterno retorno”.

Para a realização desta montagem, convidamos a atriz e diretora, Sandra Vargas, para a direção deste espetáculo. Pois, além de ter mais de 20 anos de experiência no teatro de animação,  é uma profissional com vasto  conhecimento e prática com o teatro de objetos no Brasil, contribuindo   singularmente com  a proposta do grupo.

Esta montagem não pretende ser um espetáculo sobre a vida dos atores, mas sim, um espetáculo que parte de historias reais, se desdobra e se entrecruza  com historias de  pessoas que saíram do lugar onde nasceram pra construir sua história no lugar que escolheram.